domingo, 17 de agosto de 2008

César Cielo, um ouro solitário para este país de chorões

"Eu me lembro dos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, quando o corredor braziliense Joaquim Cruz ganhou a medalha de ouro na prova dos 800 metros rasos. O país todo celebrou a conquista inédita, esquecendo do fato de que Joaquim, tal qual diversos outros atletas brasileiros, havia se tornado medalhista olímpico por sua própria conta e risco. A vitória de Cruz foi um triunfo pessoal, construído à base de muitos sacrifícios e treinamentos em Utah, EUA, custeados graças a uma bolsa oferecida por uma universidade local. Não me esqueço de que, um dia após a vitória de Joaquim Cruz, a Globo quis lhe presentear com uma casa própria, devidamente recusada pelo atleta, que prontamente questionou: "Por que não me deram uma casa no começo da minha carreira, quando eu realmente precisava de uma?".
Os anos se passaram, mas há certas coisas que não mudam neste país. Quando um brasileiro vence, torna-se orgulho nacional e a conquista é compartilhada por toda uma nação. Porém, quando esse mesmo atleta sai de mãos abanando da disputa de um pódio, é tachado de "amarelão" e vira motivo de comentários genericamente depreciativos, bem ao estilo das piadas que há anos são feitas com Rubens Barrichello, duas vezes vice-campeão de Fórmula 1. Quando um brasileiro torna-se campeão, pouco importa que sua carreira tenha sido construída no exterior, como nos casos de Joaquim Cruz e César Cielo Filho, vencedor da prova dos 50 metros rasos nas piscinas de Pequim 2008 e que treina há anos na Universidade de Auburn, no Alabama. Afinal de contas, estes medalhistas representam "todo o nosso país", certo?
Errado. O Brasil é um país de torcedores chorões que adoram reclamar do desempenho de nossos atletas, quando deveriam focar suas críticas em dirigentes incompetentes, ausência de políticas de planejamento a longo prazo e políticos que só aparecem quando surge um medalhista olímpico na tela da TV. Esse bando de reclamões consegue me deixar quase tão irritado quanto certas transmissões televisivas que botam câmeras nas casas de parentes de atletas e só conseguem flagrar declarações pífias de tias e avós lacrimejantes, um recurso tacanho que virou clichê insuportável.
Sim, eu fico emocionado quando vejo o Hino Nacional Brasileiro ser executado, embora eu não consiga me acostumar com a versão que é tocada atualmente, apenas com a primeira estrofe e os últimos versos, cortando-se todo o restante. E fiquei mais do que feliz com a conquista admirável de César Cielo, a primeira medalha de ouro de toda a história da natação brasileira. Mas que fique bem claro: como bem ressaltou Flávio Gomes, esse ouro "caiu do Cielo". Não foi mérito do COB, da CBDA ou do Ministério dos Esportes, muito pelo contrário. Como bem destacou o pai do nadador na entrevista que concedeu à ESPN Brasil, essa vitória é um mérito muito maior da família de um atleta abnegado, que aos 21 anos abdicou de baladas e namoros a fim de se concentrar em treinamentos espartanos nos Estados Unidos, longe do país que hoje celebra uma vitória essencialmente pessoal.
Vale a pena lembrar que a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, que certamente custeou a ida de muitos dirigentes para Pequim, não pagou os ingressos para que a família de César Cielo Filho pudesse assistir à sua vitória. E que, como informa o blog de Mauro Cezar Pereira, o campeão dos 50 metros rasos perdeu o patrocínio dos Correios porque optou por treinar fora do Brasil. Agora que Cielo Filho é campeão olímpico, certamente choverão ofertas generosas de patrocínios. Contudo, é preciso recordar o tapa que Joaquim Cruz deu na cara de todos os pachecos patriotas em 1984: na hora em que os atletas mais precisam de apoio, dinheiro e condições para treinar, quem aparece para ajudá-los a pagar as contas?"

Alexandre Inagaki
do Blog "Pensar enlouquece. Pense Nisso!"

Fonte:http://www.interney.net/blogs/inagaki/


*Cielo tem apoio da família e foi muito apoiado por Fernado Scherer, o Xuxa, que com certeza o ajudou na busca por mais patrocinadores, como a SAMSUNG.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, boa noite
Fiquei feliz pela medalha de ouro conquistada. Sinceramente que fiquei contente. Assisti à prova em directo e vibrei imenso com a vitória conseguida.
Parabéns!
(Infelizmente nós nem uma medalhinha conseguimos, mas ainda não perdi as esperanças)