segunda-feira, 14 de julho de 2008

Planta ornamental e bambu tratam esgoto

Plantas ornamentais sobre um suporte de pedra ou bambu. O que pode parecer apenas um arranjo paisagístico foi usado pelo engenheiro civil Luciano Zanella para tratar esgoto doméstico.
Pesquisador do Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento do Centro Tecnológico do Ambiente Construído (Cetac) do IPT, Zanella desenvolveu um sistema natural de tratamento complementar de esgoto em sua tese de doutorado, realizada na Unicamp. A proposta, chamada “sistema wetland-construído”, é pioneira no Brasil por introduzir plantas ornamentais no processo, além de inovar com a aplicação de bambu como suporte.
Trata-se de uma alternativa prática e de baixo custo de operação, pois não há necessidade do uso de produtos químicos ou de eletricidade - ideal para pequenas propriedades. “Melhora muito a aparência e foi bastante boa para remoção de sólidos e de matéria orgânica”, avalia Zanella. O sistema complementar foi responsável por cerca de 30% da remoção de ambos os materiais, em relação ao total obtido na estação de tratamento.
Segundo o autor da pesquisa, recomenda-se o sistema como tratamento complementar ao esgoto doméstico já tratado numa primeira etapa, em que foram removidos resíduos mais pesados. Em outros países, essa configuração de tratamento, com plantas ornamentais, é largamente utilizada.
Os testes foram feitos na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), da Unicamp. O engenheiro montou seis piscinas de fibra de dois mil litros cada uma, pelas quais passava o esgoto já tratado da Faculdade. Em três delas, foi acrescentada brita ou pedras de construção até a borda e, nas outras três, utilizou-se anéis de bambu. Ambos os materiais retêm microorganismos presentes no esgoto, criando um “biofilme” sobre o suporte. Esses organismos são responsáveis pela decomposição de matéria orgânica.
“O bambu funcionou bem como suporte. É uma alternativa, na ausência de pedra”, conta Zanella. Apesar de dar melhor resultado, pedras não são facilmente encontradas em locais mais distantes e dependendo do tipo de terreno, como acontece na Amazônia. Por isso, o engenheiro propôs o uso do bambu, mais disponível.
As plantas ornamentais utilizadas atuam no sistema removendo nutrientes da água, como fósforo e nitrogênio, além ajudarem a reduzir a quantidade de esgoto final. Foram utilizadas em torno de dez espécies, sendo papiro, copo-de-leite, biri e mini-papiro as que melhor se adaptaram ao tipo de cultivo.
“O sistema melhorou a qualidade da água para dispor em lagos e rios, além de melhorar a aceitação da população a um tratamento de esgoto”, conta o pesquisador. Isso porque a opção pelas plantas tem um efeito paisagístico importante. “Ao enfeitar, eu desvio a atenção do sistema”, diz Zanella. E, no final, o cultivo de plantas ornamentais ainda pode gerar renda. “O papiro é uma fibra que pode ser usada para artesanato. E existe a possibilidade de venda das flores de corte de plantas como o copo-de-leite.”
Do IPT

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