segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

SNI foi atrás até de OVNIs durante a ditadura

Se hoje a impressão é que a ABIN (Agencia Brasileira de Inteligência) bisbilhota muita gente, nada se compara ao que se fazia nos tempos da ditadura militar (1964-1985). Ainda com o nome de SNI (Serviço Nacional de Informações), o serviço secreto foi caçar, veja só, até OVNIs e ETs.

Abaixo, um dos desenhos de uma suposta nave espacial vista nos céus do Pará em 1977. A gravura rudimentar faz parte de um documento “confidencial” do SNI e que foi liberado no final de dezembro último pelo governo brasileiro:

Esse desenho tosco é parte de um documento de 86 páginas, disponível na íntegra aqui neste blog. Para ter acesso, clique aqui.

O interesse do governo brasileiro pela investigação de OVNIs é antigo. Desde 1952, pelo menos, as Forças Armadas têm registros a respeito. Para ler todos os documentos liberados oficialmente pelo governo brasileiro, clique aqui.

Todo esse material faz parte de duas reportagens na Folha de hoje, reproduzidas nos posts abaixo. Aqui, a primeira. E a segunda reportagem.

A seguir, mais 4 pequenas ilustrações do relatório do SNI produzido em 1977 e 1978, depois que agentes secretos participaram parcialmente de uma missão da Aeronáutica na faixa litorânea entre o Pará e o Maranhão. A empreitada foi, talvez num ato de humor involuntário dos seus responsáveis, batizada de Operação Prato:






Se você quiser ver uma galeria de pequenos desenhos de óvnis preparados pela Aeronáutica no final dos anos 60, o UOL preparou um álbum de fotos. Para ver todos os mais de 60 desenhos (arquivo pesado, com mais de 40 Mb), acesse o documento completo aqui.

Toda essa documentação só veio a público graças a um esforço da CBU (Comissão Brasileira de Ufólogos). Os ufólogos exerceram um direito disponível para todos os cidadãos brasileiros: o acesso a informações públicas expresso na Constituição. Na prática, é claro, esse direito não existe assim de maneira tão tranquila. O pedido para ter acesso aos documentos sobre óvnis guardados pelas Forças Armadas foi realizado em 26 de dezembro de 2007. Só dez meses depois, em outubro de 2008, foram liberadas míseras 213 páginas. No final de dezembro, outras 86 páginas (o relatório do SNI sobre a tal Operação Prato no Pará e no Maranhão).

Dois comentários do blog:

1) Primeiro, é fascinante que as Forças Armadas brasileiras tenham dedicado tanto tempo e energia para esse tipo de atividade. E que o resultado, a julgar pelo que foi divulgado, seja perto do patético.

2) O segundo comentário é que os ufólogos prestaram um grande serviço ao país fazendo o requerimento de informações. Mostraram como existe uma profunda cultura do segredo dentro do governo brasileiro.

O que se pediu não foi acesso a documentos sobre o enriquecimento de urânio brasileiro ou a respeito de atos de tortura nos porões da ditadura. Os ufólogos queriam apenas conhecer que tipo de estudo e investigação há nas gavetas do governo sobre OVNIs e ETs. Mesmo assim, passou-se mais de um ano e apenas uma parte infinitesimal foi divulgada. Pode parecer piada, mas até relatos sobre o episódio conhecido como o “ET de Varginha” o governo não libera.

O governo Lula está para enviar uma proposta de lei de acesso a informações públicas para o Congresso. A iniciativa deve ser aplaudida. Mas é necessário que essa legislação seja eficaz para forçar uma mudança de cultura dentro de todos os níveis da administração pública.

Um documento da Aeronáutica de 9 de setembro de 1990 (já estávamos em plena democracia, portanto), classificado de "confidencial", é um exemplo de como está entranhada no governo a aversão a dar publicidade aos documentos públicos. Nesse documento de 1990 eram detalhados os "procedimentos a serem adotados (...) em caso de avistamento de objetivo voador não-identificado". Depois das explicações técnicas sobre como coletar a descrição do OVNI, o relatório é claro sobre como manter os dados longe do conhecimento público: "Havendo telefonemas de jornalistas ou ‘curiosos’ solicitando informações responder que não está autorizado a fornecê-las".
Fernando Rodrigues

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