sábado, 22 de novembro de 2008

Marte como nunca se viu

As novas imagens captadas pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, equipada com umlaboratório fotográfico de alta resolução, transformam em arte abstrata dunas, rochase vulcões do planeta vizinho da Terra

Fotos NASA/JPL /University of Arizona

Marcas do tempo
Cratera originada do impacto de um asteróide (no alto, à esq.) e formações de gipso, material parecido com o gesso produzido pela evaporação de água no passado (no alto, à dir.). Resquícios de geleiras que existiram em Marte (à dir.) e vestígios de correntes de água (à esq.)

vastidão de areia da superfície de Marte reflete uma atmosfera composta de 95% de dióxido de carbono. Por causa desse reflexo, Marte aparece nos telescópios e instrumentos de observação como uma enorme bola cor de cerâmica. Daí ser chamado de planeta vermelho. Essa característica torna difícil para os cientistas identificar as imensas dunas, rochas, sulcos de lava e outras marcas do que aconteceu no passado do astro vizinho da Terra. A sonda Phoenix Mars Lander, que há duas semanas encerrou sua missão em Marte, tirou belas fotos, mas, por estar pousada no solo do planeta, as imagens têm alcance reduzido. Para obter imagens mais nítidas da topografia do planeta, a sonda Mars Reconnaissance Orbiter, que o orbita desde 2006, foi equipada com um laboratório de fotografia de alta resolução. Ele conta com doze filtros de luz, radares de altitude e sensores de radiação invisível aos olhos humanos. Os aparelhos tiraram o véu ocre pelo qual se enxergava o planeta. As imagens mais espetaculares captadas pela Mars Reconnaissance Orbiter, liberadas nas últimas semanas pela Nasa, a agência espacial americana, mostram Marte com uma profusão de tons de azul e com gelo não só nas calotas polares, mas espalhado em toda a superfície. Além disso, as fotos comprovam que o planeta abrigou grandes lagos e até oceanos.
Até hoje, as fotos tiradas pelas sondas que orbitaram Marte, a cerca de 300 quilômetros de distância da superfície, eram pouco definidas. A câmera da Mars Reconnaissance Orbiter fotografa à mesma distância, mas é equipada com uma série de recursos que fazem toda a diferença no resultado. Um radar identifica pequenos acidentes no relevo do planeta, com precisão de até 20 centímetros. Filtros que medem a intensidade de tons verdes e azuis, aliados a um sensor que capta a emissão de calor de cada trecho do terreno, tornam possível criar contrastes entre os materiais da superfície. Computadores ajudam a cruzar as informações produzidas por todos esses equipamentos. Nascem assim imagens que lembram a arte abstrata. "São fotos extremamente úteis para encontrarmos bons locais de pouso para as próximas sondas que vão aterrissar em Marte", diz o geólogo espacial Alfred McEwen, que coordena o laboratório de alta resolução da Nasa. No final do ano que vem, a agência americana irá colocar uma nova sonda na órbita de Marte, a Mars Science Laboratory.
Para compreender melhor as imagens captadas pela Mars Reconnaissance Orbiter, é útil entender como funciona o clima em Marte. No inverno do pólo sul, mais longo, a temperatura no planeta chega a 80 graus negativos. Nessa época, uma manta de gelo sujo, misturado com poeira, compõe grande parte da superfície. Quando chega o verão e a temperatura ultrapassa 10 graus positivos, essa camada de gelo, em vez de derreter, vira vapor. Isso ocorre porque a atmosfera é dezenas de vezes mais rarefeita do que na Terra. O vapor liberado é tão intenso que a pressão atmosférica aumenta 26% nessa época. As imagens mostram pontos de gelo emergindo para a atmosfera e também canais e planícies que atestam a segunda fase da evolução de Marte – quando a pressão atmosférica era maior e o planeta tinha água em abundância. "As fotos fornecem provas contundentes de que houve grande movimentação de água no passado geológico de Marte", afirma o engenheiro brasileiro Ramon Perez De Paula, que coordena a missão da sonda na Nasa. Se algum dia, como hoje se acredita, o planeta abrigou oceanos, eles deviam se concentrar no hemisfério norte – hoje composto de uma grande planície desértica. As imagens mostram terrenos estratificados, provavelmente originados da ação da água, e formações de gipso, um material parecido com o gesso que é produzido durante a evaporação. É nessas áreas que a Mars Science Laboratory, próxima sonda a explorar Marte, deve aterrissar. "Locais como esses têm maior probabilidade de guardar alguma assinatura biológica", afirma Ramon De Paula.
Além de captarem registros da época em que Marte tinha água abundante, as imagens revelam vestígios de um período anterior, encerrado há 20 milhões de anos. Nele, a superfície do planeta sofreu enormes erupções vulcânicas. Marte abriga o maior vulcão conhecido do Sistema Solar, o Monte Olympus, com 25 quilômetros de altura – quase o triplo do Everest – e 620 quilômetros de largura. O relevo de Marte tem cânions, chapadas e abismos que lembram as fossas do Oceano Pacífico. Como a atmosfera do astro não consegue desintegrar asteróides vindos do espaço, a exemplo do que acontece na Terra, eles provocam enormes crateras quando atingem sua superfície. Todos esses acidentes topográficos são registrados nas magníficas fotos da Mars Reconnaissance Orbiter.

* Essas fotos lembram-me formas orgânicas.

Fonte:http://veja.abril.com.br/261108/p_112.shtml

Nenhum comentário: