terça-feira, 16 de setembro de 2008

ONGs e movimentos sociais sulamericanos criticam agenda nuclear


Recife, São Paulo, Buenos Aires — Entidades de seis países assinam nota conjunta contra a aventura nuclear proposta pelos governos brasileiro e argentino.

NOTA DE REPÚDIO DE ONGS E MOVIMENTOS SOCIAIS CONTRA A TENTATIVA DE NUCLEARIZAÇÃO DA AMÉRICA DO SUL

Desprezando a opinião pública de seus países, majoritariamente contrária à construção de usinas nucleares, Lula e Cristina Kirchner anunciam aventura conjunta no setor.


Recife/São Paulo/Buenos Aires, 06 de Setembro de 2008

Os governos argentino e brasileiro anunciaram no sábado (6/9) a criação de uma empresa binacional voltada para o enriquecimento de urânio, produção de radioisótopos e desenvolvimento de reatores nucleares.

A iniciativa faz parte de um pacote nuclear conjunto muito maior, envolvendo outros 61 projetos no setor, todos elaborados e decididos em segredo, sem nenhuma consulta às populações, às comunidades científicas ou sequer aos parlamentos dos dois países, como nos mais sombrios tempos das ditaduras que assolaram Argentina e Brasil anos atrás.

Pior, todo o pacote nuclear argentino-brasileiro é baseado em planos megalomaníacos de instalação de 12 a 15 centrais nucleares de energia na América do Sul até 2030, espalhando a aventura nuclear a países como o Chile, Uruguai, Peru e Venezuela. Nesse sentido, Bolívia e Equador também poderiam vir a integrar a lista de países envolvidos na proliferação nuclear na América Latina.

Lamentavelmente, a Argentina, já em complicada situação econômica, decide “apostar” em uma forma de energia ultrapassada e custosa, retomando as obras de Atucha 2 (paralisadas há anos) e anunciando a construção de outras 2 usinas, além de impulsionar também perigosíssimos empreendimentos de mineração de uranio.

O Brasil que, por outro lado, vive um momento de relativa estabilidade econômica, opta por ressucitar uma indústria nuclear que já foi responsável por um terço da sua dívida externa na década de 1980, tendo custado até hoje aos cofres públicos cerca de US$ 40 bilhões, segundo estimativas oficiais. Cedendo aos delírios de funcionários das estatais do setor nuclear, alguns militares e uma ultrapassada minoria que vê a bomba nuclear como algo essencial ao país, além dos interesses comerciais e militares no ciclo do combustível nuclear, Lula anuncia a construção de Angra 3 (a um custo de mais US$ 4,5 bilhões, além do que já foi gasto com ela) e de outras seis usinas até 2030, criando um novo rombo financeiro e – inevitavelmente – encarecendo o preço da eletricidade para o consumidor.

O presidente do Brasil é ainda mais ambicioso: apesar de até hoje não ter sido resolvido o problema dos depósitos definitivos para o lixo atômico das usinas de Angra 1 e 2, lançou desafio para que o setor resolvesse em 60 dias o que não consegiu em mais de 50 anos da indústria nuclear mundial.

A atitude dos governos brasileiro e argentino só pode ser caracterizada como total desprezo pela opinião do cidadão comum da região. É ele quem, em última instância, deverá pagar a enorme conta dessa “farra nuclear”. Mais triste do que isso, é o cidadão comum que estará mais exposto aos riscos que as usinas e os depósitos de resíduos nucleares trazem consigo.

Em um mundo em rápida transformação diante das mudanças climáticas, onde governos, cientistas, empresários e simples cidadãos buscam um novo modelo de desenvolvimento, baseado em premissas como o uso de fontes de energia renováveis e limpas, a transparência e participação das populações na tomada de decisões que afetem suas vidas e a busca da segurança e paz entre as nações, Brasil e Argentina parecem não perceber a oportunidade de liderança que poderiam exercer, sujando suas matrizes energéticas, impondo pacotes nucleares às suas populações e fomentando um ambiente de insegurança na região.

Abaixo os signatários da carta.

No Brasil:

Núcleo Amigos da Terra/Brasil

SAPÊ – Sociedade Angraense de Proteção Ecológica

ATLAS – Terra de Laranjeiras

4 Cantos do Mundo

Associação de Proteção ao Meio Ambiente - PR (APROMAC)

Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC)

Ecoa

Rede Alerta Contra o Deserto Verde RJ

Mongue Proteção ao Sistema Costeiro, Peruíbe/SP

CEACON

Comissão de Defesa da Espécie e do Meio Ambiente (CDPEMA) - Guarulhos/SP

Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE)

Instituto Socioambiental da Baia da Ilha Grande (ISABI)

Associação Para Proteção Ambiental de São Carlos (APASC)

Comissão Revitalização de Sepetiba (CORES)

Rede Brasileira de Justiça Ambiental (RBJA)

Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA)

Centro de estudos Ambientais (CEA)

Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN)

Instituto Biofilia

Instituto Gaúcho de Estudos Amnbientais (InGá)

Associação das Vítimas do Césio 137 (AVCésio)

Fundação Rio Parnaíba (FURPA)

Associação Ituana de Proteção Ambiental (AIPA)

ONG Preservação de Limeira

Instituto Madeira Vivo (IMV)

Grupo Ambientalista da Bahia (Gambá)

Greenpeace Brasil

Associação Potiguar Amigos da Natureza (ASPOAN)


Na Argentina:

Amigos de la Tierra Argentina

Taller Ecologista

Programa Argentina Sustentable

Bios Argentina

Greenpeace Argentina

Live Gaia

Oikos, Mendoza

Asociación Ecologista Piuke, Bariloche

Asociación contra la contaminación ambiental de Esteban Echeverría


No Uruguai:

Red Uruguaya de ONGs Ambientalistas

REDES-Amigos de la Tierra Uruguay

Comisión en Defensa del Agua y la Vida

CLAES

CEUTA


No Chile:

Instituto de Ecología Política

Chile Sustentable


No Paraguay:

Sobrevivencia - Amigos de la Tierra Paraguay


Outras entidades:

ILSA, Colômbia

COECO – Amigos de la Tierra Costa Rica

Amigos de la Tierra America Latina e Cariba – ATALC

Cono Sur Sunstentable

International Rivers

Rede Virtual - Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina

Fonte:http://www.greenpeace.org/brasil/

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