sábado, 14 de junho de 2008

Um monolito do além - Pedra do Ingá




Nosso andarilho baixa no interior da Paraíba e encara os mistérios da Pedra do Ingá: sítio arqueológico ou obra de aliens em visita à Terra?
Arthur Veríssimo
O Brasil é um imenso baú de achados arqueológicos e cidades perdidas. Muitos caçadores de tesouros embrenharam-se em nossas florestas à procura do desconhecido. O coronel britânico Percy Harrison Fawcett - que inspirou o personagem Indiana Jones - desapareceu em 1925 nas entranhas da Serra do Roncador (Mato Grosso) à procura de uma antiga civilização. Depois de circular pelas montanhas do Tibete e pelas selvas do Sri Lanka, Fawcett leu "Highlands of Brazil" (algo como "Montanhas do Brasil"), livro escrito em 1869 pelo explorador e escritor Richard F. Burton. Entre as páginas da obra, havia um esboço do fascinante "Documento 512", atualmente arquivado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O manuscrito relata a história de uma cidade perdida, encontrada pelos bandeirantes em 1753. Trata-se do mesmo relato que instigou José de Alencar a escrever o romance "As Minas de Prata" em 1865.
Decidi decifrar um pouco da história da arqueologia no Brasil visitando a Pedra do Ingá, primeiro monumento arqueológico tombado como patrimônio nacional, em 1944. O sítio encontra-se a 97 km de João Pessoa e a 46 km de Campina Grande, na Paraíba. Logo na chegada, fui recebido pelo guardião do local, "Seu" Renato Alves da Silva. Um homem notável. Forte e rústico, aos 80 anos de idade, ele cuida do lugar e combate a ação predatória dos turistas sem-noção. "Seu" Renato é cativante. Está nas redondezas há mais de 18 anos e sobrevive vendendo camisetas, lanches e artesanato.
Tendo o guardião como cicerone, fui lançado ao visual desconcertante do monolito. O bloco de granito tem 24 metros de comprimento por 3,8 metros de altura e é um mistério para antropólogos, arqueólogos, astrônomos, ufólogos e, principalmente, simples mortais como nós. Nele estão esculpidas em baixo-relevo várias figuras representando constelações, pássaros, foguetes, astros, répteis e a Via Láctea. As inscrições lavradas na pedra são um enigma. Quem foram seus autores? Especulações e delírios. Para alguns foram os hebreus. Outros falam em etruscos, incas, astecas, fenícios e até extraterrestres. Gilberto Santos, presidente do Centro Paraibano de Ufologia, afirma que as gravuras têm origem alienígena. Já os antropólogos dizem que elas foram feitas pelos cariris, designados pelos cientistas como paleo-índios.
É praticamente impossível coletar uma datação precisa das inscrições, já que a Pedra do Ingá está à beira de um curso d'água. Em época de chuvas, ela fica completamente submersa. Especula-se que ela tenha mais de seis mil anos de história. Muitas hipóteses são sustentadas pelos pesquisadores. A tese das constelações afirma que os traços do painel superior destacam as austrais de Peixe e Gru completamente conectadas. Na parte inferior, observaríamos Órion e Cão Maior. "Seu" Renato explica detalhadamente o significado dos desenhos, mas a interpretação final fica a critério do arqueólogo amador.
A Pedra do Ingá mais parece um portal de conexão com o além, relatando informações e acontecimentos do dia-a-dia do homem pré-histórico que habitava a região. Para a maioria da população atual do lugar, o painel é obra de ETs em visita à Terra. Sei não. Na realidade, independentemente das interpretações, a Pedra do Ingá é um maravilhoso monumento artístico à disposição de qualquer um. Quando estiver na Paraíba, não vacile: faça uma viagem ao passado.

Nenhum comentário: